quarta-feira, agosto 18, 2004

Fernando Pessoa

XI

Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela

E oculta mão colora alguém em mim.

Pus a alma no nexo de perdê-la

E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro em mim gela,

E o leve Outono, e as galas, e o marfim,

E a congruência da alma que se vela

Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso... E a hora como um leque fecha-se...

Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...

O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se...

E, abrindo as asas sobre Renovar,

A erma sombra do voo começado

Pestaneja no campo abandonado...
 
 

4 comentários:

  1. O Grande Fernando Pessoa...mesmo a propósito.

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  2. Como tu. A poesia e a pintura. Ambas, impressões inculcadas na alma de quem as reproduz, o poeta, a artista. Como se ambos fossem o meio através do qual a obra, naturalmente, toma vida!

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  3. Fernão;

    Foi mesmo "de" propósito! :)))

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  4. musalia;

    A magia das tuas palavras vem reforçar o impacto que este pequeno grande poema do F.P. sempre teve em mim.

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