quarta-feira, junho 30, 2004

PORTUGAL! PORTUGAL! PORTUGAL!

Faltam...

Já falta cada vez menos. Vou deixar de contar. Vou viver o dia a dia. Afinal, o relógio marca sempre a mesma cadência - 24 horas por dia, 60 minutos por hora, 60 segundos por minuto...!

terça-feira, junho 29, 2004

2.

Nas tuas mãos abertas cresce o trigo
Nos meus seios fechados coze o pão
O teu pássaro azul voou comigo
e uma pena ficou na minha mão

Não há amores perfeitos. Só contigo
é que as gardénias cheiram a limão
a repetir um ritual antigo
lá onde cresce o trigo e coze o pão

Dizes-me adeus com preces de mendigo
Na hora da partida é que eu te digo
- Tenho uma pena azul na minha mão

Calou o vento seus cantares de amigo
Invadiu o luar o meu postigo
Lá. Onde cresce o trigo e coze o pão.

Rosa Lobato de Faria
in
Dispersos

Faltam...

14 dias! :)

segunda-feira, junho 28, 2004

16.

Marcou-me o polegar da poesia
no dorso das palavras inconclusas
Devoram o meu pão de cada dia
musas medos marés mitos medusas

Impressão digital de um deus secreto
no reverso de mim que desconheço
sinete e lacre no pulsar incerto
dum coração lunar que não mereço

Por ti diria uvas caravelas
Por ti diria cântaro granito
Por ti diria tâmaras janelas
sede porto gaivota barco grito

Por ti diria tudo ou quase nada
se não fosse esta fome esta saudade
de ser eternamente madrugada
ou ser precariamente eternidade.

Rosa Lobato de Faria
in
Memória do Corpo

ABRUPTO

27.6.04
18:58 (JPP)


"(...) E o país é mais importante que o partido, não é? Não era Sá Carneiro que o dizia?"

Faltam...

15 dias! :)

domingo, junho 27, 2004

ABRUPTO

 

-
26.6.04
23:32 (JPP)
POBRE PAÍS

o nosso.

"Será que se faz ideia, em particular nos órgãos de comunicação social, da enorme confusão que as pessoas comuns, menos politizadas, sentem face a notícias que estão a ouvir nos intervalos do futebol? Notícias que se precipitam, com pequena clareza e explicação, feitas por gente que acompanha ao detalhe a luta política exclusivamente para gente literata na nossa política, sem cuidar da insegurança que geram?

As pessoas intuem que alguma coisa de importante se está a passar, mas não sabem o que é. Imaginam os comentários perplexos que, numa pequena aldeia, traduzem essa impotência pela falta de informação, ou pela informação apressada? O que é que se está a passar? O nosso PM morreu? Os comunistas vão ganhar? Vai mudar tudo? Quem vai governar é a Europa?

Todos estas perguntas me foram feitas. Esta é a realidade da percepção pública de uma crise inesperada, que surge com a máxima estranheza porque fora do quadro eleitoral normal."


Faltam...

16 dias! :)

sábado, junho 26, 2004

XLIX

(Mundo tão concreto. E tão irreal)



Uma nuvem pequenina
saiu-te dos olhos
e pairou por momentos
no ruído azul
do sol velado...

Depois transformou-se na ninfa do despenteio ao Vento

e vai agora pelos campos
com cabelos de poeira
e túnica molhada de flores amarelas
- lá por onde passa a minha solidão
a fingir de primavera
nos caminhos dos pés voados
por dentro do pólem...


José Gomes Ferreira
in
Poesia III

Faltam...

17 dias! :)

sexta-feira, junho 25, 2004

"No Arame"

O blog do Alexandre Monteiro, completa hoje um ano de existência. Aqui ficam os nossos sinceros Parabéns - e também um bolo com 1 vela e uma taça de champagne, virtuais! :)

"VIVA PORTUGAL"

Faltam...

18 dias! :)

quinta-feira, junho 24, 2004

Ignorante confessa...

e fraca adepta dos calendários anuais do desporto que arrasta multidões, agrada-me, sobremaneira, o clima de alegria, de cor e euforia que inunda Portugal. O nosso proverbial cinzentismo foi momentâneamente esquecido. Levantámos o nariz do chão e até conseguimos sorrir aos desconhecidos. Estamos mais soltos, mais positivos, menos "vai-se andando". Estamos a mostrar - mais uma vez - que também somos bons a organizar e "em grande". Um elogio aqui para as mulheres - em maior número - nos lugares chave da organização. Que a Bandeira se mantenha e que o espírito que nos anima, tenha vindo para ficar.
Não importa que seja pela via do football. Importa que seja. Importa que sejamos sempre portugueses enquanto nação. FORÇA SELECÇÃO. E VIVA PORTUGAL!

12.

Não me disseste amante madrugada
pedra-de-lua pássaro viagem.
No meu corpo de Agosto feito à estrada
não descobriste a sombra da folhagem.

Não murmuraste ao menos solidão.
Amora mel morango não disseste.
Não te pedi nem mar nem coração.
Não tens perdão.

Fui água e não bebeste.

Rosa Lobato de Faria
in
Memória do Corpo

Faltam...

19 dias! :)

quarta-feira, junho 23, 2004

9.

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembrança? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha - a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que já não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?

De quem é esta briga? Não me lembro!

ROSA LOBATO DE FARIA
in
As Pequenas Palavras

“O Plágio é Uma Forma de Elogio ”

-

Arroz de Pato À Rédea Solta.


Ligue o formo, regule-o para 200 graus e deixe-o aquecer por 10 minutos.

Enquanto isso, abra o congelador e retire uma embalagem de arroz de pato (como ninguém me paga publicidade, não indico marcas). Com uma tesoura corte a extremidade da caixa de cartão – guarde a prova de compra para futuras promoções – retire a embalagem que vem dentro, corte a capa de plástico e deite o conteúdo num pyrex não untado. Coloque-o no formo, previamente aquecido, durante 30 minutos, tendo o cuidado de mexer com uma colher de pau a meio da contagem.

Sugestões:

Sirva... com uma boa salada mista, das que vêm embaladas e já lavadas.

Acompanhe... com um vinho tinto, maduro, servido à temperatura ambiente.

Use da imaginação ... pense que está a comer Arroz de Pato das receitas do “ Arame” que deve ser - de longe - muito melhor do que este.

Et... Bon Apetit! :)))

Faltam...

20 dias! :))

terça-feira, junho 22, 2004

É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra
toda fulgente de pêlos
toda brotada das trevas
toda pesada nos beiços
de um barro que nunca seca
nem no cântico dos seios
nem no soluço das pernas
toda raízes nos dedos
nas unhas toda silvestre
nos olhos toda nascente
no ventre toda floresta
em tudo toda segredo
se de joelhos me entregas
sempre que estás de joelhos
todos os frutos da Terra.


David Mourão-Ferreira
in
MÚSICA DE CAMA

Faltam...

21 dias! :))

segunda-feira, junho 21, 2004

Hoje...

é o primeiro dia do verão, do ano da graça de 2004!

Faltam...

22 dias! :)

domingo, junho 20, 2004

A APCA - Canil de São Pedro de Sintra,

tem para adopção cerca de 20 cachorros. São todos muito meigos e saudáveis. Se procura um amigo de 4 patas para tratar com amor e respeito, venha fazer-nos uma visita e adopte um dos nossos cães. Eles serão gratos para toda a vida!

917255595 – 917607773 – info@apca.org.pt

http://www.apca.org.pt

"Era meu objectivo salvar toda aquela gente"

No dia 18/6 a Fundação Pro Dignitate, abriu as portas numa homenagem a Aristides Sousa Mendes.
O Historiador convidado, Professor Doutor João Medina, usou da maior isenção ao falar sobre a vida e obra do Consul de Portugal que à revelia do regime em que servia e acreditava, salvou dezenas de milhar de vidas. 10.000 ou 30.000 não importa. Está escrito algures - SE SALVARES UMA VIDA JÁ VALEU A PENA.

Faltam...

23 dias! :)

sábado, junho 19, 2004

Hoje...

o céu acordou cinzento. Sei que é um "lugar comum", mas o azul está mesmo "faded away", como os jeans de que tanto me custa separar. Em qualquer Feira da Ladra da Europa, Marché aux Puces, Petit Coat Lane, Portobello Road ou até o de Amsterdam - cujo nome nunca consigo escrever, pela falta de vogais ou pelo excesso de consoantes - um par de jeans gastos, desfiados, rasgados, desbotados, com uns simpáticos remendos bordados a missangas e lantejoulas, vale uma pipa. Verdade seja dita - há gente com uma enorme criatividade! Eu, contento-me em pintar os meus a acrílico, sempre que um pincel distraído deixa tinta onde nao deve. E a partir daí vou criando. Quem foi que disse que só o primeiro traço não é intencional?

Ontem telefonei para o Star Kennels para saber dos meus cães. Telefono algumas vezes por semana. Sei que estão bem, entregues a alguém que nao faz de um negócio de canil, apenas um negócio de canil. Estão os dois juntos, numa box espaçosa, correm livremente pela quinta algumas vezes por dia, são tratados pelo nome, recebem mimos e têm-se um ao outro. Eu é que os não tenho e a casa está estranha e desconfortavelmente vazia. Os ruídos normais da sua vivência neste espaço partilhado, também partiram com eles e não há quem "dê sinal"! Sorte estarmos no Euro e a segurança aqui na zona ser de cinco estrelas.

Em Sintra, na distância, adivinha-se um céu plúmbeo com a silhueta do Palácio da Pena quase mais imaginada que visível. O fraco azul de há uns momentos já partiu para parte incerta.
E eu também vou partir. Vou continuar a minha viagem para "SUL" na companhia do Miguel.

Faltam...

24 dias! :)))

sexta-feira, junho 18, 2004

quinta-feira, junho 17, 2004

Nesta...

minha semi-imobilidade forçada, resolvi viajar para "SUL" com o miguel sousa tavares.

37.

INTERVALO DOLOROSO

Coisa arrojada a um canto, trapo caído na estrada, meu ser ignóbil ante a vida finge-se.

Bernardo Soares
in
LIVRO DO DESASSOSSEGO

NUMA FOTOGRAFIA

Não sejas como a névoa, nem quimera.
Demora-te, demora-te assim:
faz do olhar
tempo sem tempo, espaço
limpo - do deserto ou do mar.

Eugénio de Andrade
in
O Outro Nome da Terra

Faltam...

26 dias! :)

quarta-feira, junho 16, 2004

HUMOUR...

is a means of reconciliation: if we can laugh when we are feeling tense and uneasy we can soon loose our negative feelings and see our experience in perspective, in a more rational and healthy way. But in order to laugh we need to feel safe, otherwise our anxieties about the future will sweep in and inhibit the discharge of our tension. What is true for the individual is true in the context of the work of art.

Michael Billington

Faltam...

27 dias! :)

terça-feira, junho 15, 2004

O fabrico do...

QUEIJO DE AZEITÃO é uma das actividades tradicionais mais características da zona do Parque Natural da Arrábida. Derivado do afamado Queijo da Serra – da Estrela – começou a ser aqui produzido no início do século XIX por iniciativa de Gaspar Henriques de Paiva, natural da Beira Baixa. Foi um queijeiro de Castelo Branco que ensinou aos pastores da região os segredos do seu fabrico, que transmitido de geração em geração deu origem ao famoso – e saboroso – queijo de ovelha de Azeitão.
Serão vários os factores que influenciam as características deste queijo – o clima da Serra da Arrábida, a flora das suas pastagens e uma flor de cardo existente em todo o sul do nosso país, utilizada na coagulação da caseína.
Esta delícia da nossa gastronomia ainda é produzida artesanalmente nos seguintes locais – Quinta do Calhariz, Quinta de Camarate e Quinta Velha (Castanhos).

Há...

dias em que acordamos num grande mar de "merde"! Deve ser do gesso!

Faltam...

28 dias!

segunda-feira, junho 14, 2004

MANHÃ

A nossa noite ontem à tarde
foi a manhã por que esperávamos.

DAVID MOURÃO-FERREIRA
in
Órfico Ofício
[1972-1978]

Faltam...

29 dias para tirar o gesso!

domingo, junho 13, 2004

Santo António de Lisboa

(Lisboa, 1195 - Pádua, 1231)


Frade franciscano, doutor da Igreja e português, Santo António nasce Fernando de Bulhões, a 15 de Agosto de 1195 na cidade de Lisboa e frequenta a Escola dos Cónegos da Sé. Ingressa na vida religiosa em São Vicente de Fora com 15 anos e vai depois para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde é ordenado sacerdote. Em 1220 torna-se frade franciscano no Eremitério de Santo Antão dos Olivais, de Coimbra. Conquistado pela vida missionária, vai a Marrocos em missão apostólica e parte depois para Itália. São Francisco convoca-o, em 1221, para o Capítulo Geral da Ordem e ali revela os seus dotes de orador a pregar perante os seus confrades e cativa São Francisco que o convida a ensinar Teologia nas escolas franciscanas de Bolonha, Montpellier e Toulouse. Em 1227 é nomeado ministro provincial no Norte de Itália. Em Pádua prossegue a sua carreira de professor de Teologia e morre nesta cidade a 13 de Junho de 1231. É proclamado doutor da Igreja pelo papa Pio XII, em 1946, que o considera «exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística».

sábado, junho 12, 2004

TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

DAVID MOURÃO-FERREIRA
in
Infinito Pessoal
[1959-1962]

ARTE E SABER FAZER

Todos têm uma ideia sobre arte: o filólogo, o teólogo, o crítico, o jurista, o militar, o historiador de arte e o Senhor Presidente da Câmara. Não é verdade que cada um tem o “seu” gosto?
Perdão, Senhores, a arte nada tem a ver com o gosto, a arte, não está lá para ser “degustada” mas o Senhor Presidente da Câmara pensa que a arte está lá para que a “julguem”, a arte moderna, que é “julgada do ponto de vista comercial”.
Como é que uma ideia tão original pode ter saído da cabeça de um Presidente da Câmara? O que o Presidente da Câmara quer, é o que os críticos dos jornais diários fazem, os grandes e os pequenos. Querem emitir juízos sobre arte. Eis como é confortável, dado que uma qualquer crítica errónea não tem necessidade de ser desmentida. Os “juízes” da arte falam do “saber fazer”, deploram que este saber fazer não exista absolutamente nada nos mais “jovens”. Por vezes mesmo deploram isso muito seriamente . Mas sabem então Senhores em que consiste esse “saber fazer”? Não, os Senhores não o sabem. Crêem que saber fazer é saber desenhar e pintar correctamente, como o “sabe fazer” um aparelho fotográfico desde que se inventou a fotografia a cores. O nariz não deve ser muito comprido, nem a perna demasiado curta. E esta a “base sólida” vão procurá-la nas escolas de belas-artes e tornam-se alguém-que-conhece-bem-o-seu-ofício.
Saber fazer significa saber dar forma. Saber fazer subentende que se é capaz de pressentir a vida interior da linha e da cor. (Linha e cor elas mesmas destacadas do objecto. Pintura absoluta no sentido em que se fala de música absoluta.) Saber fazer subentende que se venceu. Para o artista, as coisas mais quotidianas, tais como as mais raras, podem tornar-se uma aventura, as cores de uma tonalidade, um emaranhado de linhas.
Este novo saber fazer subentende que o público e sobretudo o crítico, “saibam fazer” qualquer coisa. O crítico deve ser capaz de reconhecer na forma elaborada pelo artista o que ele viveu e deve poder revivê-lo ele próprio.
Se, além disso, ele for capaz de exprimir numa linguagem clara o que ele sentiu diante de uma obra de arte, tem o direito de escrever sobre arte. Talvez mesmo de emitir opiniões sobre arte. O critico deve ainda poder fazer outra coisa: renunciar a pretender vaidosamente que é o tutor da arte, que pode desempenhar um papel de conselheiro, dizer aos artistas como fazer melhor. Mas vós, Senhores juízes, não sabeis nada de arte.

E.

Volksmund, Bona 30.10.1912

E. (Ernst, Max)

TIME!

One time has asked to the TIME
«How many time has the TIME?»

TIME answered to time:
«TIME has as much time, as the time has».

sexta-feira, junho 11, 2004

14.

A música chegou na polpa do silêncio
nesta tarde solar de bocas e morangos.
E bebemos licor e lambemos os dedos
entre coxas e mãos e pássaros e seios.

Há rosas de tocar pelas ilhas de cheiro.
Nos cabelos do mar ficou o vau do vento.
E pairo horizontal na berma do teu peito
cumulada de sol feita de flores por dentro.

Rosa Lobato de Faria
in
Poemas Escolhidos e Dispersos

quinta-feira, junho 10, 2004

Ah!

No dia 7 de manhã, aconteceu-me uma coisa chata - fracturei o radio e estou de gesso! :)))


segunda-feira, junho 07, 2004

Roteiros de Luz

A pintura do GUILHERME PARENTE é uma viagem extraordinária pelo imaginário da criança que todos fomos e dos eleitos que continuam a ter essa criança dentro de si.
É uma viagem de barco, de avião, de balão, é o papagaio de papel com folha de ouro, é a casinha e os passarinhos dos primeiros desenhos de todos nós, é a cantilena infantil - "rei... capitão... soldado..." - é o Cavalo de Troia, é o farol. É a alegria suprema de podermos contemplar o seu trabalho - cor, motivo e tela. É o prazer do reencontro com o pintor. Eu estive lá e jamais esquecerei.

No Centro Cultural de Cascais, de 4/6 a 18/6, de Terça a Domingo, das 10 às 18 horas.

domingo, junho 06, 2004

XLVII

(Um momento de filosofia barata.)

Para além do "ser ou não ser" dos problemos ocos, o que importa é isto:
- Penso nos outros.
Logo existo.

José Gomes Ferreira
in Poesia - III

sábado, junho 05, 2004

11.

Os teus dedos escorrendo como leite
como mel como chuva como sumo.
A sombra do meu ombro no tapete.
Os teus beijos ardendo ao pé do lume.

Que sede que silêncio que sonata
que saudade de sermos sempre assim:
a maçã sobre a salva ainda intacta
a serpente singrando sobre mim.

Rosa Lobato de Faria
in Poemas Escolhidos e Dispersos

sexta-feira, junho 04, 2004

A obra...

vai tendo uma gestação lenta no interior do artista. Cria-se como um hábito de pensar e reagir em imagens que depois, quase inconscientemente, vamos decantando e seleccionando. Mas quando julgamos que já se pode atacar determinada ideia, vemos que a obra também manda porque tem as suas próprias leis de formação, internas e externas. Revolta-se e impõe-nos as suas condições como as personagens de Pirandello. Como em todas as coisas da vida, existe um diálogo entre o autor e a matéria da sua obra. Ao princípio, a meta nem sempre é clara, "se hace camino al andar".

(1958)

Antoni Tàpies

Do Espiritual na Arte

"Toda a obra de arte é filha do seu tempo e, muitas vezes, a mãe dos nossos sentimentos.
Cada época de uma civilização cria uma arte que lhe é própria e que jamais se verá renascer. Tentar ressuscitar os princípios da arte dos séculos passados só pode conduzir à produção de obras abortadas."

Munique, 1910

KANDINSKY

quinta-feira, junho 03, 2004

Acordei...

cedo! Pensar o trabalho que vou criar - quando, o que eu gosto, é "deixar que aconteça" - tira-me o sono. Melhor, reduz-me horas do sono que necessito, para ter paz de espírito e deixar que aconteça. Quando assim acontece - sorte minha, raras vezes - fico surrealista; ou talvez não.


XV

A este desespero azul
de te querer sempre ao pé de mim
chamam os homens amor.

Mas o amor é outra raiva
de arrancar o sol da lua.
É andar com andorinhas na algibeira,
e dependurá-las na chuva...

José Gomes Ferreira
in Poesia Terceira

quarta-feira, junho 02, 2004

A pintura...

sempre foi uma abstração, desde as grutas de Altamira até Picasso, passando por Velásquez. Eu disse muitas vezes, perante os fanáticos do Realismo, que a realidade nunca esteve na pintura, que ela se encontra unicamente na mente do espectador. A Arte é um signo, um objecto, algo que sugere a realidade do nosso espírito. Não vejo, portanto, qualquer antagonismo entre abstração e figuração, na medida em que ambas nos sugerem esta ideia da realidade. A realidade que os olhos mostram é uma sombra muito pobre da realidade.

(1955)

Antoni Tàpies
in La practica de l'arte

terça-feira, junho 01, 2004

No Dia da Criança!

Liberdade


Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca.




Fernando Pessoa
in Cancioneiro