E agora Siena, a bem-amada, a cidade onde o meu coração verdadeiramente se compraz. Terra de gente amável, lugar onde todos beberam do leite da bondade humana, ponho-te adiante de Florença para todo o sempre. As três colinas em que está construída fazem dela uma cidade em que não há duas ruas iguais, todas elas opostas às sujeições de qualquer geometrismo. E esta maravilhosa cor de Siena, que é a do corpo brunido pelo sol, que é também a cor da côdea do pão de trigo – esta maravilhosa cor vai das pedras da rua aos telhados, amacia a luz do Sol e apaga-nos do rosto as ansiedades e os temores. Nada pode haver mais belo que esta cidade.
(...)
Entro num bar para beber um café. O empregado atende-me com a voz e o sorriso de Siena. Sinto-me fora do Mundo. Desço ao Campo, uma praça inclinada e curva como uma concha, que os construtores não quiseram alisar e que assim ficou, para que fosse uma obra-prima. Coloco-me no meio dela como num regaço e olho os velhos prédios de Siena, casas antiquíssimas onde gostaria de poder viver um dia, onde estivesse numa janela que me pertencesse, voltada para os telhados cor de barro, para as portadas verdes das janelas, a tentar decifrar donde vem este segredo que Siena murmura e que vou continuar a ouvir, mesmo que o não entenda, até ao fim da vida.
José Saramago
in Manual de Pintura e Caligrafia
Não foi ele quem me levou lá. Quem me levou foi o acaso; o acaso de uma placa à distância de poucos quilómetros, perdida algures numa estrada entre Florença e Roma. Mas podia ter sido ele, tivera a sequência dos acontecimentos sido inversa.
Num largo, desafogado, com vista para um um casario com ar de muitos séculos, aninhado em três colinas, deixei o carro. Lembrei-me da cor, a tal cor de Siena que dava o nome à cidade. Aproximei-me do muro e olhei para baixo na distância, como num avaliar do caminho a percorrer. E, à medida que descia nas linhas do livro, ía também descendo nas ruas estreitas, sinuosas, desiguais, naquela viagem feita anos antes.
Pouco a pouco, e enquanto progredia na leitura, as imagens duplicavam-se, sobrepunham-se, completavam-se. A sensação vincada de ter visto com os mesmos olhos, de ter vivido aquelas linhas.
O bar, a recordação da vivência in locco, e a lembrança de uns ‘raviolis’ – os melhores que já comi – com recheio de ricota e espinafres, da refeição ligeira tomada numa das duas mesas da pequena esplanada do pequeno bar, assente sobre estrado de madeira em forma de cunha, em espaço roubado à calçada. E ao fundo, a escassos metros, e depois do arco, o Campo!
SIENA, não digo arriverdecci, digo CIAO!
Nota de rodapé – Só discordo num pormenor; Florença é Florença. E tem um rio. Não sei se é por isso!
Fotos IM
Eu só digo que quero voltar! :)
ResponderEliminarUm abraço, Maria do Céu.
Não conheço! Mas fiquei com uma enoooorme vontade de conhecer. :)
ResponderEliminarBeijos
Florença é uma beleza e tem Siena ali bem perto. Duas cidades sempre a rever.
ResponderEliminarOlá Isabel,
ResponderEliminarFiz uma óptima leitura de Siena através de Saramago, de ti e das fotos. Nunca fui a Itália, mas há lugares que de tanto ler acerca deles parece que os conheço e se um dia estiver em algum deles quero-me em silêncio para os ususfruir e usufruir o tempo em que sonhava e lia sobre eles.
A propósito, Saramago, Jangada de Pedra...isso faz-me lembrar qualquer coisa, não faz? Bem, mas eu ainda não estou preparada para atacar esse... estou a ler a Ilíada na tradução do famoso FL.
agua_quente,
ResponderEliminaré um itinerário a cumprir...
a Itália tem algo de místico e de mágico e um povo encantador.
Um abraço.
Helena,
ResponderEliminarsubscrevo, e tenho saudades de lá voltar.
Nesta viagem, depois de uma semana em Roma, desci até Nápoles e fui de barco a Capri.
Capri lembrou-me tanto da Arrábida, a mesma vegetação e a mesma coloração da água... mas com preocupações ecológicas; dentro da ilha não há transportes poluentes, apenas uns pequenos carros com motor eléctrico que transportam pessoas e bagagens para os hoteis.
Um []
Ai ai...
ResponderEliminarClaro que também é do Rio Arno e da Ponte Vecchio...
Firenze é Firenze.Como te compreendo!
Beijinho gordo da Vespinha
Ai Itália Itália que saudades...
ResponderEliminarbeijocas
Laerce,
ResponderEliminarNão deixes de incluir a Itália na tua agenda. Além dos pontos obrigatórios dos roteiros das agências, há no norte uma região belíssima, a região dos lagos, Lago di Garda, Lago Isola...
E na zona de Torino as estâncias de ski com tudo muito bem organizado. Uma maravilha! :)
Quanto à Jangada, não me esqueci. Pensei nisso quando fui reler o 'Manual de Pintura...'
Um beijinho.
Vespinha,
ResponderEliminare do David! :)
Firenze é tb uma bela ideia para um post. Só tenho que procurar as forografias.
Beijinhos.
Caro Buddha,
ResponderEliminaré um facto... muito muito especial. :)
[]
Mocho,
ResponderEliminarEntão somos dois; eu tb tenho saudades de Itália. Acho mesmo que seria capaz de lá viver uns tempos. Tem sol, mar, gosto do idioma, respira-se cultura por todo o lado, o povo é gentil e a gastronomia é soberba. :)
Bacci.
Isabel,
ResponderEliminarbelo post sobre Siena com vozes de Saramago e Isabel, a fundo.
em Florença, ai Florença! encontras a pietra serena, uma das características dos edifícios, pelo menos dos amis antigos.
beijinhos.
Musalia,
ResponderEliminarEstive vários dias em Florença e quero voltar.
Tenho tantas saudades da Itália...
Um beijinho. Obrigada pela visita.