CARLOS BOTELHO
“Que fazemos nós, Lisboa, os dois aqui
Na terra em que nascemos e eu nasci”
Perguntava Alexandre O’Neill, de ombro na ombreira, a olhar o Imperador Maximiliano do México que está na estátua do Rossio a fingir que é o Dom Pedro IV de Portugal.
Hoje da Igreja de Arroios já não voam anjos sobre os bêbados, mas há mistérios que continuam a animar a cidade e o Dom Pedro do Rossio é um deles. Verdade ou mentira, ainda se está para saber porque razão é que o escultor francês encarregado de figurar o nosso rei em bronze de primeiríssima não esteve com mais aquelas e despachou para Portugal um Maximiliano qualquer que tinha lá para um canto do atelier.
Enigmas destes comprometem a paisagem e, muito sinceramente, não só caem mal nas pessoas de sentimentos como são difíceis de desculpar à luz da inteligência. Os eruditos, então, ainda hoje perdem o sono com este parágrafo da nossa História e quando passam pela estátua do falso rei baixam os olhos num silêncio de pudor que só lhes fica bem.
O lisboeta corrente é que não se deixa embrulhar em desmandos desta espécie, o lisboeta corrente tem cá uns traquejos e um deixa-andar que lhe permitem dar a volta aos azares de estremeção e às complicações mais solenes. Se levanta a cabeça e vê o imperador transviado a escorrer verdete lá do alto, até é capaz de achar graça. Dom Pedro? Dom Maximiliano? Que se lixe, seja o Dom Pedro, porque não? Assim como assim, o país fica na mesma e o Rossio ainda ganha mais um caso para entreter.
O’Neill reagiria tal e qual, estou mesmo a vê-lo, um riso pronto, um bocejar, e ia à vida porque de monumentos errados e escultores de mão canhestra está a nossa capital a transbordar (...)
José Cardoso Pires
Na terra em que nascemos e eu nasci”
Perguntava Alexandre O’Neill, de ombro na ombreira, a olhar o Imperador Maximiliano do México que está na estátua do Rossio a fingir que é o Dom Pedro IV de Portugal.
Hoje da Igreja de Arroios já não voam anjos sobre os bêbados, mas há mistérios que continuam a animar a cidade e o Dom Pedro do Rossio é um deles. Verdade ou mentira, ainda se está para saber porque razão é que o escultor francês encarregado de figurar o nosso rei em bronze de primeiríssima não esteve com mais aquelas e despachou para Portugal um Maximiliano qualquer que tinha lá para um canto do atelier.
Enigmas destes comprometem a paisagem e, muito sinceramente, não só caem mal nas pessoas de sentimentos como são difíceis de desculpar à luz da inteligência. Os eruditos, então, ainda hoje perdem o sono com este parágrafo da nossa História e quando passam pela estátua do falso rei baixam os olhos num silêncio de pudor que só lhes fica bem.
O lisboeta corrente é que não se deixa embrulhar em desmandos desta espécie, o lisboeta corrente tem cá uns traquejos e um deixa-andar que lhe permitem dar a volta aos azares de estremeção e às complicações mais solenes. Se levanta a cabeça e vê o imperador transviado a escorrer verdete lá do alto, até é capaz de achar graça. Dom Pedro? Dom Maximiliano? Que se lixe, seja o Dom Pedro, porque não? Assim como assim, o país fica na mesma e o Rossio ainda ganha mais um caso para entreter.
O’Neill reagiria tal e qual, estou mesmo a vê-lo, um riso pronto, um bocejar, e ia à vida porque de monumentos errados e escultores de mão canhestra está a nossa capital a transbordar (...)
José Cardoso Pires
E tem mesmo razão José Cardoso Pires! E eu saio a sorrir...
ResponderEliminarDeixo um abraço e boa semana :)
Gostei do texto ... um retrato bem fiel que nos deixa na cara um sorriso rasgado !!!!
ResponderEliminarAmei a tela de paixão !!!!
Beijoquinhas de luz, em homenagem a mais um dia que nasceu cheinho de claridade !!!! ;)
Não se pode deixar de sorrir... pelo facto em si, pelo texto do Cardoso Pires e pelo O'Neill, figura tão querida e tão conhecida, tão fielmente retratada...
ResponderEliminarUm [] menina_marota :)
Querida Caracolinha,
ResponderEliminarPela década de 70... curso de turismo... turismo, etc e tal, contaram-me a história - acho até que foi o saudoso Tomaz Ribas. Anos mais tarde, vi-a impressa no 'Livro de Bordo' que é para mim um dos melhores roteiros da cidade de Lisboa. Verdade ou mentira? Fica a questão!
Quanto à tela... o Botelho também é um dos meus PINTORES DE LISBOA - o Homem da Lisboa Cor-de-Rosa.
Beijinhos.
Isabel,
ResponderEliminarque curioso, ainda há bem pouco tempo um amigo comentava comigo essa história da estátua 'disfarçada' de D. Pedro...
Botelho, sim, gosto muito e das suas miradas de Lisboa.
beijinhos.
Musalia,
ResponderEliminarde vez em quando, e entre amigos, conto esta história...
há alguns que acreditam e outros que dizem 'estás a alucinar'...
Nada como ter o Cardoso Pires a fazer coro! :)
Mas... juro que gostaria de saber a verdade. :)
Do Carlos Botelho, meu pintor de Lisboa, tive uma litografia, de grandes dimensões, que perdeu a cor.
Um beijinho.
Isabel,
ResponderEliminarInteressante esta questão sobre a verdadeira representação de uma estátua, mas troca por troca, os chilenos estão mais avantajados pois o famigerado Palácio de la Moneda, deveria ter sido construído mesmo no Brasil que o encomendou e olha, passou os Andes...Coisas alheias à arquitectura e à escultura.
Um beijinho
Laerce,
ResponderEliminar'passou os Andes'? essa é boa! :) E quem pagou a obra, quem encomendou ou quem a recebeu?
Olha, juro que gostaria de saber mais sobre este caso... é que eu confesso que nunca estive na américa do sul. Muito do que sei, aprendi/relembrei nas visitas à Expo.
Um bj.
Isabel,
ResponderEliminarEssa história do Palácio de la Moneda, em Santiago do Chile, tem a ver com troca de plantas e projectos. Pelos vistos o projecto do palácio chileno era o da Casa da Moeda do Brasil, no Rio. Bem, mas isso parece ser apenas ficção, pelo menos oficialmente.
Aqui te mando dois sites para leres um pouco mais.
http://www.numismatic.com.br/curiosidades_casa.html
--
http://www.arquivonacional.gov.br/portalan/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9
Um beijinho
Laerce,
ResponderEliminarObgda, vou consultar. Estou mesmo curiosa. :)
Bjinho.
Há algum tempo que era para aqui ter vindo mas não sabia a data do post...
ResponderEliminarEstá provado, provadíssimo, que a estátua do Rossio é mesmo a do nosso Rei D. Pedro IV. E como é que isso foi provado? É simples! Quando a CML mandou limpar a estátua verificou-se que os botões da farda têm o brazão real de Portugal.
Agora façam o favor de divulgar a notícia. ;)