terça-feira, fevereiro 07, 2006

o poder da arte

HUNDERTWASSER
terceira pele: a casa do homem

"A arte pela arte é uma aberração, a arquitectura pela arquitectura é um crime." HUNDERTWASSER



Caricatura de Hundertwasser por Dieter Zehent-mayr no jornal "Neue Kronen Zeitung" de 16 de Janeiro de 1991


O Quase Círculo, óleo sobre madeira, 59 x 140 cm, Saint-Mandé, 1953

Mesmo em ruas direitas concebidas à régua, a marca do homem evolui como uma linha orgânica.

Tirania da Arquitectura - A Via para o Socialismo, técnica mista, 97 x 129 cm, Nova Zelância, 1982

Entre 1972 e 1980 Hundertwasser completou o percurso formativo da sua teoria naturista iniciado em 1958 com o "Manifesto do Bolor". As instituições sucederam às instituições, os manifestos aos maifestos. A espiral da consciência atingiu o seu ponto de maturação crítico. O moralista envolvido na ofensiva da reabilitação homem-natureza vai suceder à visão estética do pintor, assumindo-as integralmente. Nesta cruzada da felicidade através do belo, a estética não se sobrepõe à moral, estética e moral vão andar lado a lado.


Casa Hundertwasser, habitação social, esquina da Löwengasse com a Kegelgasse, Viena, 1995

A Hundertwasser-Haus é uma encomenda da cidade ao artista. Sensíveis tanto à sua pintura como aos seus enunciados teóricos, os autarcas locais proporcionam a Hundertwasser a ocasião de realizar a sua utopia. O poder político dirige-se a Hundertwasser por estar determinado a aceitar uma aposta sobre o poder da arte. O acto de construir à Hundertwasser vai imprimir a marca específica da sua criatividade sobre o fragmento de tecido urbano que lhe é confiado, sobre a dimensão física e humana do ambiente. Neste caso concreto, a especulação sobre o poder da arte tem a característica de uma aposta sobre a poética do espaço habitado. E como se trata de uma operação de habitação social, o gesto político faz todo o sentido. É esse o poder da arte: ao pedir a Hundertwasser que construa o lote de habitações sociais na esquina da Löwengasse, a Câmara Municipal de Viena não se dirigiu a um arquitecto, mas a um mercador de felicidade. Encomendou-lhe uma série de espaços felizes.

3 comentários:

  1. Olá Isabel,

    Muito interessante esta terceira pele. Não deixa de ser importante notar essa expressão:' os autarcas locais proporcionam a Hundertwasser a ocasião de realizar a sua utopia'. Gostaria de saber qual é a reacçaõ das pessoas que habitam este bairro, como o vêem, e o que de facto lhes trouxe de novo. A palavra 'utopia' é mesmo utópica e a e realidade pode ser uma grande decepção.

    Adorei ler isto, venha a quarta pele

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  2. Olá Laerce,

    Fiz as mesmas interrogações que tu quando li o livro... e ainda outras sobre partes do texto não trancritas aqui.

    Visitei Viena pela última vez em 1991 e ainda não existia o bairro social Hundertwasser-Haus.

    Confesso que gostaria de o ver - sur place - e mesmo abordar as pessoas, mas estou certa que se poderá dizer - sem exagero - antes de Hundertwasser e depois de Hundertwasser.

    A quarta pele segue dentro em breve. :)

    bj.

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  3. Mais um contributo sobre algo que desconhecia e que venho a seguir com interesse desde o início.

    Voltarei.

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