terça-feira, novembro 28, 2006

ALÉM TEJO

ISABEL MAGALHÃES
ALÉM TEJO
2001
73 X 60
acrílico sobre tela

(Col. Particular)


TEORIA DO SUL

Folheia-se o caderno e eis o sul. E
o sul é a palavra. E a
palavra des-
do-
bra-
-se
no espaço com suas letras de
solstício e de solfejo. Além
de ti. Além do Tejo.

Verás o rio. E talvez
o azul. Não
o de Mallarmé: soma de branco
e de vazio.
Mas aquela grande linha onde o abstracto
começa lentamente a ser o
sul.

MANUEL ALEGRE


segunda-feira, novembro 27, 2006

"Estou num pedestal muito alto, batem palmas e depois deixam-me ir sozinho para casa. Isto é a glória literária à portuguesa.
” Mário Cesariny". (1923-2006)

sábado, novembro 25, 2006


de memória - diferentes lugares
Aguarelas e aguadas


SER

Junto
às mágoas
dorme
o sonho
Amanhã
pela manhã
virão
os olhos acordar-me

O resto
invento

Domingos Galamba


segunda-feira, novembro 20, 2006

PORTUGAL NO MUNDO


Caros amigos;

Há mais um post em:



Agradeço a v/visita e comentários.
(in English, please, para não haver reclamações.)


(Foto: Scala Books - New York)

domingo, novembro 19, 2006





Cavaleiro Dom Quixote




Dom Quixote e Sancho Pança
2005 - acrílico sobre tela




ALENTEJO


Outro é o tempo
outra a medida.

Tão grande a página
tão curta a escrita.

Entre o achigã e a perdiz
entre o chaparro e o choupo

tanto país
e tão pouco.


Manuel Alegre
in Alentejo e Ninguém

quinta-feira, novembro 16, 2006

MESTRES


Mestres-pintores há que permanecem na penumbra. Vão animando o ambiente com as cores e formas de uma plástica adaptada às superfícies dos objectos onde pintam. A sua arte é o mobiliário alentejano azul, branco, vermelho, com flores. São as proas e as rés dos barcos de alguns rios ou das bateiras e motoras de ir ao mar, onde, além dos símbolos da posse, aparecem símbolos inspirados nas crenças ou nos meandros da imaginação - ora desenvolta ora conformada aos estereótipos massivamente difundidos.
São ainda as pinturas de alminhas, registos de santos e ex-votos ou pagamento de promessas, que, aos poucos, vão sendo abandonados pelos quadros de referências iconográficas das populações. E são, finalmente, no sul do país e da lha de São Miguel, as pinturas dos taipais e canudos de carros e carroças, que vão sobrevivendo à motorização.

Artistas da penumbra e do esquecimento, o que pensam e o que sentem quando exercem o seu mister? Perguntei ao mestre lá do fundo porque pintava aquele vermelho cor-de-terra, escurão, ao pé da borda branca. Respondeu que seguia o que já estava feito de antigamente. Que era assim. Mas, que por ele, pintaria tudo de branco com uma risca amarela em cima. Eram as cores de que gostava, e qualquer dia pintava-as. Só para ver se a mudança pegava.

Foto: Sesimbra 1973

in Nós, Portugueses
HELDER PACHECO

quarta-feira, novembro 15, 2006

SENHORA ROSA TECEDEIRA


Cansaram-se os olhos da senhora Rosa. E, cansados os olhos, as mãos já não trabalham. Arrumou o tear - que, em casa de tecedeira, é a última coisa a desarmar - e desistiu.

Durante anos a fio, sem parança, urdiu as teias e, com tiras de trapos velhos, fornecidos pelos clientes ou comprados ao quilo, mais algodão e lã teceu mantas.

Usavam-nas, conforme calhava ou, melhor dizendo, ao gosto do freguês, nas camas como cobertas (e mesmo cobertores,) no chão, como tapetes cobrindo o solho esfregado, asseado, amarelíssimo do sabão utilizado, conforme o costume das gentes vareiras e murtoseiras. Por vezes, usavam-nas também, estranha função, como panais no fabrico de roscas doces.

Anos a fio, na sua casa da Ribeira, a senhora Rosa foi tecendo. (Aprendi a tecedeira, / donde estou arrependida, / passa o amor na rua, / e eu na prisão metida.) Uma vida. O que resta desse lavor é esta imagem. E nada mais. Além de algumas, poucas, mantas, velhas, desbotadas e desfiadas de que, um dia destes, já ninguém recordará a origem. (Salvo os Museus - se os houver para guardar as lembranças das terras e das suas gentes.) Uma vida. Uma caminhada que chegou ao fim, e mais uma oficina perdida na voragem onde as tradições artesanais se vão consumindo. No caso da senhora Rosa, não tece nem há tear, por aqueles dois motivos e mais um: a inevitável condição de envelhecer, deixar de ver e perder a mão que urdia a teia. E tecia, tecia, tecia.


Foto: Ribeira (Ovar) 1977


in Nós Portugueses
Helder Pacheco

segunda-feira, novembro 13, 2006

COM ESTAS MÃOS

Com estas mãos desamarro o barco e deixo-o afastar-se do cais, levado pela corrente.
Empunho os remos e oriento o rumo da saída da doca. Com estas mãos ponho o motor a trabalhar, seguro o leme e aponto o horizonte onde a noite perspectiva a fartura (ou, quem sabe, o desencanto da magreza da faina). Com estas mãos largo o ferro no mar, no sítio em que a convicção, os sinais da Natureza, a percepção ou o vaticínio indicam haver peixe (sina imponderável da pesca artesanal sujeita não às regras da ciência mas às previsões da prática). Com estas mãos lanço a rede de emalhar e deixo-a à espera da passagem do cardume, ou lanço os anzóis da amostra e ponho-me ao abano até que o peixe ferre.
(Foto: Sagres)

(Faro 1984)

Com estas mãos faço tudo o que é preciso. Aos domingos conserto os aparelhos. Tão frágeis e custosos de fabricar, que é preciso jeito e paciência para os manter. Com estas mãos mantenho a arte enquanto puder. (Vereis barcos ir à vela, / uns que vão, outros que vêm, / como que se desavem / Com uma viração singela; / Tanta força e arte tem. Sá de Miranda).

in Nós Portugueses

Helder Pacheco

domingo, novembro 12, 2006

ONDE O SORRISO?


Há quem mantenha a força de viver. Mas, em certas condições, é precido travar uma batalha. É preciso aprendê-la, recuperá-la ou reinventá-la. É preciso não a deixar fugir. Não desistir. Não abdicar de um sentimento, de uma coragem discreta. Sem alardes.
Há quem mantenha o olhar da persistência e da afirmação. O olhar da determinação. (O meu menino é d'oiro, / d'oiro é o meu menino. Mas onde a doçura e a alegria? Onde o calor de um afecto, de um sorriso? Onde a pérola, o cristal, o leite e o mel dos anos da infância? Onde a infância?)
Foto: Ribeira Brava (Madeira) 1974
in NÓS PORTUGUESES
Helder Pacheco

quarta-feira, novembro 08, 2006



Fotos 1, 2, e 3 - Isabel Magalhães (moi) - Mata do Estádio Nacional, 8.11.2006

Foto: Flickr
as árvores morrem de pé.
e depois tombam.

(pensamento ocorrido durante o passeio matinal à mata na companhia dos meus cães, perante as árvores derrubadas pelos recentes temporais. Muitas outras estão em risco de cair e outras ainda mantém-se de pé amparadas pelos ramos das circundantes.)

domingo, novembro 05, 2006

JAIME ISIDORO - A História de Um Olhar.


Aguarela-colagem 45 - 1994
aguarela-colagem s/papel - 90 x 60 cm


Porto - 2003
óleo s/tela - 95,5 x 150 cm
Colecção Particular - Porto



Porto - 2003
óleo s/tela - 170 x 210 cms
Colecção Instituto Politécnico do Porto


A carreira de pintor de JAIME ISIDORO, nascido no Porto em 1924, situa-se em dois momentos afastados no tempo que demarcam duas fases diferenciadas: uma primeira situada entre os meados dos anos 40 e os meados dos anos 50 do século XX e uma segunda desenvolvida a partir da segunda metada da década de 80 até à actualidade.
Essencialmente reconhecido pela prática exímia da aguarela, Jaime Isidoro é um pintor versátil que conjuga uma delicada aprendisagem académica com um claro sentido inovador. As suas obras sobre o Porto encontram-se entre as que melhor souberam dar expressão iconográfica à cidade. Sem munca sair de uma matriz por muitos considerada tradicional, permitiu-se, em diferentes momentos da sua carreira, e com certa contenção, assinar obras onde a ousadia deixa uma marca importante.
Foto: Edições ASA


O trabalho do Pintor Jaime isidoro pode ser visto aqui, aqui, aqui, e aqui.

quinta-feira, novembro 02, 2006

GUSTAV KLIMT

O Friso Beethoven - Alegria, nobre centelha divina (pormenor) 1902
Este beijo ao mundo inteiro

O BEIJO, 1907/1908


De quem as mãos
trocadas minhas tuas
entrelaçadas nuas
dadas.

Onde é que eu já não sou
e tu já és?
Que fronteira de nós?

Não se explica no gesto nem na voz
o ponto onde eu começo e tu acabas.



ROSA LOBATO DE FARIA
Poemas Escolhidos e Dispersos.


Imagens: Taschen