quarta-feira, outubro 27, 2004

TUNÍSIA: AZUL E BRANCA


Zaafrane

Voa-se por cima do Alentejo, de areias de Espanha e do mar Mediterrâneo. Entra-se em África e segue-se ao longo da costa do Magrebe. Já de noite, pousamos em Tunes e só no dia seguinte acordamos para a luz e as cores - branco e azul - desse fantástico país de praias, montanhas, desertos, cidades árabes, aldeias berbéres e templos romanos. Fica a duas horas de voo: o tempo que se demora a mudar de civilização.
miguel sousa tavares, SUL viagens.
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Entra-se, literalmente, no deserto ao passar as portas rudimentares de uma ainda mais rudimentar construção, feita de tijolo cor de areia, sem reboco, que se confunde com a paisagem.
Ao entrar, as portas fecham-se atrás de nós e somos confrontados com uma semi penumbra, permitida por pequenas frestas na parede oposta, e com um calor sufocante, deixado que fora o autocarro com ar condicionado. Lentamente, os nossos olhos apercebem-se do pouco que nos rodeia. Um espaço, relativamente pequeno, moscas, muitas moscas, bancos corridos em madeira velha e alguns funcionários que nos entregam um saco com o que iremos usar, sobre a nossa roupa, nas cerca de duas horas seguintes. Depois da djelaba vestida, ensinam-nos e ajudam-nos a colocar a longa tira de tecido branco, impecavelmente branco - azul para alguns - que nos cobrirá a cabeça e quase toda a face. Com o grupo devidamente “vestido a rigor”, as portas na parede em frente às da entrada abrem-se e somos contemplados com a primeira visão do deserto. Cá fora, uma cáfila aguarda ao sol, alinhada, sentada na areia escaldante, cada animal acompanhado do respectivo cameleiro. Convidada a escolher, os meus olhos pousam num de grande porte que em pé revelou mais de 1,80 m à garupa. Após as explicações sobre a forma como o animal se levanta para que possamos contrariar o movimento, inicia-se a subida e a expectativa do levantar. Os animais são dóceis, habituados ao trabalho de transportar pessoas, e o seu andar é suave e lento, sempre pela mão do cameleiro que nos acompanha a pé. Um outro animal mais pequeno, sem passageiro, segue amarrado à minha montada e não cessa, teimosamente, de me mordiscar a djelaba. Passada mais de meia hora de percurso, pedi ao cameleiro que me confiasse as rédeas. De início recusou com um gentil “pas possible, madame”. À terceira insistência e depois de lhe garantir que estava segura do que queria, acedeu. A sensação é indescritível. É uma sensação de liberdade apenas igualada pela que se experimenta no mar numa pequena embarcação à vela.
De rédeas na mão e num passo quase trote, não cessava de pensar, com um sorriso, e-se-o-camelo-resolve-partir-à-desfilada? Não partiu! Reduzi o passo. Alguém nos fazia sinal de parar. Estávamos no meio de nada. Nada à vista, nem pistas de jeep, nada além de areia. E subitamente, vindos não sabemos de onde, um grupo de jovens e crianças, transportavam latas de coca-cola, água e outros refrigerantes, acondicionados em baldes com gelo.
Depois, o percurso inverso. O entregar da djelaba, as fotos com os camelos e os cameleiros que com ar doce pediam “une photo, madame”!
Acabáramos a primeira etapa dos três dias que permaneceríamos no deserto do sul da Tunísia.

12 comentários:

  1. Quase que dá vontade de ter lá estado..de ir...e ficar por algum tempo.

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  2. Descrição soberba!
    Por momentos senti areia nos olhos e na boca!! :-)

    Adorava fazer uma viagem do estilo.
    As coisas são simples, básicas, rudes e reais.

    O que mais adorei foi o contraste do deserto árido com a coca-cola no gelo!!!! :-)))

    Bjs

    PS: As melhoras do Diogo

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  3. Acredita que sim. É uma viagem a não perder num país rico em património e de paisagem diversificada. E a experiência do deserto é única.

    bjs fernão! :)

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  4. A mim apetece-me voltar. A relação qualidade/preço é muito boa. Compensa fazer o circuito em autocarro - 2.000 kms - e ficar uma segunda semana, a descansar, num hotel de praia, por um acréscimo insignificante.

    O Diogo está a evoluir bem e agradece o cuidado! :)))

    Bjs aos meninos de Sintra. :)

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  5. Descrição tão colorida como as fazes com os teus pincéis e as tuas cores!
    O deserto atrai, sempre ouvi dizer. E a sua beleza não se iguala a nenhuma outra, já me disseram. Um dia ofereci uma imagem do deserto a alguém muito saudoso dessas paragens de menino, mas a tristeza continuou no seu olhar...
    Beijinho, Isabel. Festinhas ao Diogo!

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  6. A minha experiência do deserto resume-se a condições climatéricas excepcionais - 50 graus ao sol - e sem vento e com um hotel climatizado à minha espera para passar a noite. Não sei se uma súbita tempestade de areia me deixaria as mesmas sensações transmitidas no post. :) Ainda assim, gostaria de voltar ao Sahara, talvez noutras coordenadas e viver a experiência de dormir numa tenda. Ainda tenho tanto mundo para ver!
    Obrigada, Musa, pela visita. O Diogo também agradece a festinha. :)

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  7. São paragens que não conheço e que esta tua deliciosa descrição me faz crescer o apetite! Boa noite, Isabel das cores mas também das palavras! :)
    Francisco

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  8. Recomendo, vivamente. Estou certa que irias adorar porque a diversidade da paisagem é tanta e há tanto para ver/aprender. E os preços são baixissimos. Durante o circuito, há pequenos locais em que por falta de opção, somos obrigados a permanecer em hoteis de 3 estrelas e esses, como deves saber, não são nada de especial, mas são limpos, simples mas limpos. Para completar o entusiasmo porque não passas num Agente de Viagens e pedes o folheto do circuito? :)
    Beijinhos, Francisco e obrigada mais uma vez pela tua visita. :)

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  9. O deserto atrai-me; Sem nunca lá ter estado, sinto o apelo da imensidão e da paz. Curioso que este ano estive vai não vai para ir passar um semana à Tunísia com uma amiga minha - mas avisaram-me que podia ser perigoso andarmos em viagem as duas por aquelas bandas -e o perspectiva de ser raptada não me agrada nada, a não ser que seja pelo príncipe encantado ;)
    Fiquei de pé atrás, quando lá for prefiro ir em grupo, é mais seguro.
    Beijinho,
    tinha saudades de vir aqui*

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  10. Olá Vague!
    Também fui em grupo, com guia, e penso ser a única maneira de fazer o circuito do deserto. O que se perde em autonomia ganha-se em segurança e evitam-se muitas situações desagradáveis. Não esqueças que é "outra civilização".

    Tinha saudades de te ler. :)
    **********

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  11. os Ventos do Desertos apagam muitas Dores....mas, tornam as cores dos pinceis, e das telas mais vivas e puras.
    E ninguem sabe o Porquê.
    São peregrinos espirituais que ainda habitam estes desertos. Iniciaram o nosso presente em nome de um futuro. Mas os habitantes do deserto, quiseram para sempre, lá ficar.E, ainda lá estam.
    Saudades do Deserto muitas...
    O Miguel é uma pessoa especial, também peregrino de si mesmo.
    "Um bom filho a casa sempre...Será?!.....
    Azul, Branco e um Amarelo Torrido, desenham um abraço naquele Céu...
    ;) Belo Deserto, beijo da Musqueteira

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  12. Viva, Musqueteira! :)

    O deserto sempre exerceu atracção sobre os pintores. Lembro-me de Paul Klee como "O Homem de Kairouan" e vou citar o que ele escreveu à chegada a Tunis: "O sol de uma força sombria. A claridade colorida sobre o país cheia de promessas."
    Sei que quero voltar ao deserto.

    Saudações......! :)))

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